domingo, 18 de maio de 2014

Literatura Fantástica: A Fantasia Ganha Espaço na Sala de Aula



Por L.P.Faustini

Quando eu era criança, tudo para mim era fantástico. Uma floresta escura poderia se tornar o lar de um monstro malvado. Duas cadeiras cobertas por um lençol virava o abrigo do aventureiro para se proteger do lobo. Bastava um toco de madeira na mão para que ele virasse uma poderosa espada. E o tapete da sala era mágico. É incrível a capacidade que uma criança tem de inventar um mundo de fantasia a partir das coisas mais comuns de nosso cotidiano.

Mas a gente cresce, e então essas fantasias desaparecem. Ficamos adultos. As cadeiras são somente para sentar, o lençol para se cobrir. O toco de madeira é somente um pedaço de pau. O tapete não voa. E a floresta escura? Bem, a floresta ainda pode nos dar medo, mas já não é o lar de um monstro malvado. Não é bem verdade que o mundo de uma criança é bem mais interessante que o nosso? E sabem o porquê? Porque crianças são exímios sonhadores!

Acostumamos muito cedo a lidar com a realidade. Na escola aprendemos ciências, matemática, física, biologia, geografia, mas aprendemos a sonhar? Só na cama, não é? Pois a verdade é que a literatura fantástica veio para resgatar esse lado que perdemos quando entramos na escola: a capacidade de sonhar!

E é de sonhadores que se faz o mundo!

Vejamos o exemplo de Martin Luther King, prêmio Nobel da Paz pelo combate à desigualdade racial, antes de mudar o rumo da história dos negros nos Estados Unidos ele disse em um discurso: “Eu tive um sonho...”. Certamente, ele era um grande sonhador quando criança.

Assim como Martin Luther King, toda e qualquer obra de fantasia poderia começar da mesma forma: “Eu tive um sonho...” e então o rumo da sua história muda. Tudo se transforma. A literatura fantástica trata do imaginário. Um imaginário que vai trazer à tona sentimentos perdidos na dura realidade na qual vivemos. Um livro de fantasia medieval, que trata, por exemplo, de cavaleiros e reis, traz à tona um sentimento que há tempos não é mencionado: honra. E o que é um homem honrado? É um homem de palavra, de princípios, que não se quebra frente às adversidades, digno, que se arrisca a morrer lutando com um dragão para defender a sua honra. É mais poético dizer que um homem é honrado a dizer que ele é simplesmente honesto. Mas parece muito mais difícil achar este homem aqui em nosso mundo. Ser honrado é um ideal a ser seguido nos livros de fantasia. É uma virtude que se encontra apenas em bons homens.

E esse assunto acaba puxando outro assunto: a eterna batalha entre o bem e o mal, que também é tema de muitos livros de fantasia. A dicotomia quase caricata, onde o bem é responsável pela paz, pelos bons modos, pela felicidade, e o mal representado pela guerra, pela repressão, pelo ódio, pelas mortes injustas. Eu acredito nisso. Eu acredito que forças agem nesse mundo e que devemos identificá-las e evitar que sejamos atraídos pelo mal ou tentados pelo mal que já existe dentro de nós mesmos. Os livros de fantasia nos ajudam a torcer pelo lado certo (que eu acredito que seja o bem) e identificar o mal em nosso meio, em nossa família, em nossos amigos e em si. Enquanto os bons são recompensados, os maus são castigados. E isso é uma essência da fantasia que é instrutiva e que eu apoio (até o papa Francisco recomenda a leitura de Senhor dos Anéis).

Um outro ponto importante do imaginário da literatura fantástica e que se torna crucial para que os alunos acreditem em seus sonhos se chama “a jornada do herói”. E o que é a jornada do herói? Tudo começa com um garoto comum e bondoso que sonha em mudar o mundo (como vocês e eu) e um mundo relativamente normal (como o nosso). E então, este garoto recebe uma tarefa e, sem querer, descobre que realmente pode mudar o mundo se conseguir cumpri-la. O leitor pode não perceber, mas o garoto somos nós (os sonhadores de verdade), mas ao contrário da gente, ele acredita em seu sonho. Então, ele vai atrás dele, faz amigos, inimigos, encontra um mentor, adentra um mundo mágico e passa por provações. Ele vence seus medos, enfrente a morte, se desespera, mas a recompensa de mudar o mundo o leva adiante. Ao final da jornada, o garoto já não é o mesmo. Ele é um herói. E ele volta para casa, para os seus familiares. E com a experiência que ganhou, ele é uma pessoa muito melhor. É aquilo que ele nasceu para ser.

Frodo e o Senhor dos Anéis: um heroi

E eu digo, que vai mais longe em nosso mundo aquele que sonha mais. Aquele que persegue seus sonhos, como o garoto da história. Durante a nossa vida no planeta Terra, ganhamos amigos, conseguimos inimigos, encontramos uma pessoa a quem podemos chamar de “mestre” (pode ser até o nosso querido professor). Este mestre nos leva a um mundo diferente (uma cidade diferente, um país diferente) e lá passamos por provações. Muitos desistem e fracassam nessa hora. Mas não os sonhadores, não aqueles que conheceram a história do garoto em um livro de fantasia e quiseram tornar a história dele em sua própria.

O mundo como conhecemos pode ser duro, cruel, injusto, mas sim há algo de fantástico nele contanto que nunca deixemos de sonhar. Os livros de fantasia estão aí para isso, para nos mostrar o quão belo é termos um ideal, de sermos pessoas inquebráveis, de enfrentar desafios, lutar pela prevalência do bem e de perseguir nossos sonhos (nem que seja aquela menina que você é apaixonado que te mostrará um mundo mágico).

A fantasia ganha espaço na sala de aula e isso é maravilhoso. Nós, escritores de fantasia ouvimos essa frase com orgulho, sabendo que estamos contribuindo para um futuro de conquistas e quem sabe, uma conquista como um prêmio Nobel da Paz. E por que não? E por que não, na entrega da premiação, subir no palco e, diante de milhares de pessoas, iniciar o seu discurso com: “Eu tive um sonho...”?

3 comentários:

Justino Neto disse...

Parabéns, Faustini (juntamente com o Pavani) pelo trabalho. Continuem perseguindo seus sonhos! Um grande abraço

Anônimo disse...

" Eu tive um sonho... E nesse sonho todas as crianças do mundo sonhavam acordadas... - Mas como isso é possível? - perguntavam os céticos.
_ Simplesmente abra os olhos para a vida que está á sua frente, encare-a como a aventura mais fantástica que nenhum bardo ousou criar até hoje. Pois ela, (a vida), é uma coisa extraordinariamente mística e linda."
Minha alegria e orgulhos não tiveram medida quando soube que nossa literatura fantástica (á nossa!) estava sendo tão evidenciada nessa bienal... L.P sabe o tamanho do meu desejo em ver as crianças de hoje viajarem nos livros como eu viajava na infância (e ainda viajo, ok?!).
Parabéns pela bela representação dessa necessidade que, se não estadual, pelo menos nacional.

Que a Ordem o guie em sua nova jornada, herói.
Fran

Fernando Moraes disse...

Que texto lindo, parece um sonho haha
Nota 10 Faustini!