quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo IV - Marcus II, O Ousado


— E a mensagem, como foi recebida pelo rei? — perguntou o jovem.
— Ninguém esperava um ataque de tamanha proporção, nem mesmo Marcus. Embora viesse de nossos inimigos, posso dizer que Linus merecia uma condecoração por seu brilhante manejo naval. A situação dele era delicada e crítica.
— Marcus... Marcus... Pela Ordem! Está se referindo a Marcus II, o Ousado?
— Ele mesmo. O rei Marcus, jovem na ocasião, teria que convocar todas as hostes oficiais dos lugares mais isolados do reino, se quisesse ao menos pensar em uma defesa eficaz. Ele teria que alistar todos com alguma ou nenhuma habilidade de combate, artesãos, camponeses, comerciantes...

— E ele conseguiu?

— Quarenta mil homens! E em apenas sete auroras! Vieram de diversos lugares, desde as regiões arbóreas de Everard até as montanhas geladas de Vahan. Estavam a postos na planície de Bogdana, aguardando ordens.
— É um número alto, considerando as tantas partições contrárias ao rei nas atuais auroras...
— Naquele momento, os siegardos perceberam que aquela não era uma guerra política ou econômica. A nossa defesa não seria usada para proteger um rei, e sim os princípios da Ordem; uma tarefa desempenhada maravilhosamente por Marcus. Tal manifestação por parte do rei fez aumentar a sua aceitação dentro do reino. A Ordem estava em xeque e Marcus sabia muito bem disso.
— Não acredito, velho, que a guerra tivesse algo a ver com outros motivos, além dos políticos e econômicos. Dos que conhecem algo sobre a Grande Guerra, ninguém acredita. Linus ancorou no Velho Condado. É de conhecimento geral que naquela região funcionava uma antiga mina de aurumnigro, o metal mais valioso de nossas terras, tão estimado que já chegou a ser o antigo nome do reino — o prisioneiro sorriu ao ouvir essa óbvia e desnecessária explicação. — A meu ver, Linus queria o precioso aurumnigro, só isso. Porém, ele se equivocou, não sabendo que a mina havia sido desativada muito antes da unificação.
— O assunto não era tão simples quanto você pensa — disse o velho. — Naquelas alturas, as opiniões estavam divididas. Mas, de qualquer maneira, para os combatentes absortos, era questão de honra lutar pelo que eles acreditavam. Também por sua terra, suas mulheres e crianças.
— Quem diria, tamanha nobreza provir de um assassino... — o jovem disfarçou um sorriso cínico.
— Não sou quem pensa que sou! — retrucou, categoricamente.
— É o que veremos. Mas, voltando ao assunto, enquanto Marcus reunia suas forças, o que fizera Linus?
— Ele e sua armada se assentaram na região do Velho Condado. Fizeram de escravos os que resistiram ao ataque à costa, e os camponeses que ali habitavam.
— Por que ele não avançou de imediato?
— Na posição onde eles estavam, visto que sua manobra marítima fora bem sucedida, a possibilidade de eles receberem um ataque surpresa por nossa parte foi totalmente eliminada. O único combate que Linus esperaria ali era do tipo frontal. Dessa maneira, nossas forças seriam mais frágeis.
— Uma armadilha! E o rei foi tolo o suficiente para cair nela. Marcus poderia ter esperado as tropas de Linus morrer por inanição.
— Era o que se pretendia. Mas você não prestou atenção ao que eu disse antes. Linus tinha mais do que seus próprios homens lutando ao seu lado. Subitamente, uma estranha doença se espalhou pelo reino logo depois do desembarque em Sieghard. Os primeiros afetados foram os habitantes de Véllamo e Muireann. Nenhum soldado daquelas cidades compareceu aos chamados do rei. Todos estavam cegos e debilitados.
— Poderia ser uma doença trazida por Maretenebræ...
— Tinha-se certeza de que isso era obra de Linus — o velho prisioneiro interrompeu a fala do jovem. — Quando os primeiros casos começaram a aparecer em Askalor e Alódia, a decisão do rei foi imediata: atacar as forças do Caos ou sucumbir sem lutar.
— E assim acabaram realizando o desejo de Linus, um massivo ataque frontal.
— Antes de tudo, um desejo de Destino.

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